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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Depoimento de Pamela

A Sorte e a Surpresa


Depois de anos de relutância interna pude admitir que era gay e ir atrás do que eu realmente sentia querer. Após alguns meses de mentiras (de uma mentirosa fracassada) minha família descobriu. E por um amor insano – que não foi eterno como achei que seria – terminei por beijar aquela menina no meio do meu prestigioso baile de formatura.



Pronto, fim de papo. Eu sei, elas sabem, o mundo sabe. Havia saído tanto do armário que minha mãe queria definir a nora perfeita (sortuda, eu sei que sou).



Vida pessoal resolvida tinha que cuidar da profissional. Precisava aprender inglês o mais rápido possível.



- “Vai pra fora” disse minha mãe, que geralmente tem razão.



Botei meu olho no mapa e escolhi o país mais gay que conhecia: Canadá. Escolhi baseando-me na lembrança dos meus tempos de sapinha enrustida assistindo “The L Word” escondida, no dia em que Carmem e Shane foram se casar no Canadá (Shane desgraçada).



Decisão tomada, mala pronta, pesquisa feita: o país onde casamento gay é permitido, as pessoas são receptivas e muito pouco preconceituosas. E Vancouver, na costa oeste, uma cidade tão gay que tem até um bairro chamado Gay Village, era meu destino.



Culpa do meu agente de viagens (gay, que eu sei) perdi a parada gay por poucas semanas (nem tão sortuda assim).



Fui morar na casa de uma família canadense e liguei pra famigerada ex na primeira hora, depois de falar com ela, liguei pra minha mãe. Não demorou muito pra família inteira perceber que eu era diferente.



Primeira semana de curso, classes alternativas, conversação, começaram falando das diferenças culturais. O assunto relacionamento sempre surgia e na minha cabeça tive o claro pensamento: não vou sair falando, mas se perguntarem, não nego. Finalmente o assunto gay veio à tona, trazido pela professora canadense (nossa, eles devem falar sempre nisso, pensei). Ruiva, olhos bem azuis, diferentemente interessante, sempre olhava bem dentro dos meus olhos quando falava comigo. Ela levantou e distribuiu o jornal do dia, olhei a primeira página e engoli a seco:



“GAYBASHING” dizia o anúncio. Um homem, que andava de mãos dadas com seu namorado na rua central da Gay Village, foi atacado brutalmente com socos, chutes e palavrões por um outro qualquer que andava na calçada. Teve a mandíbula fraturada e outras escoriações.



Eu, na cidade mais gay, do país mais gay que eu conhecia, me assustei tanto a ponto de enfiar meu rabinho dentro do armário e transformar a minha ex-namorada num ex-namorado ficcional. Triste, magoada, e reprimida, pesquisei na internet sobre os direitos dos homossexuais.



Na Wikipedia existe um mapa que mostra através de um mapa de cores a postura legal dos países em relação à homossexualidade, países que permitem casamento gay, união gay, são indiferentes, punem com prisão, com prisão perpétua e com sentença de morte.



Acreditam nisso? Sentença de morte em 8 claramente contáveis países no mapa. Mais assustador ainda – Guiana Francesa, país que faz divisa com o Brasil, condena com prisão perpétua a homossexualidade.



http://en.wikipedia.org/wiki/Homosexuality_laws_of_the_world



Eu, depois desta surpresa, chorando escondida dentro do armário.



Voltei para o Brasil…



Pâmela

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